A força da liderança no momento de vulnerabilidade
05 maio 2017
“Pois eis que já passou o inverno; a chuva cessou, e se foi. “Cantares 2:11”
No início de 2009 tinha aceitado o compromisso de assumir o ministério de missões e evangelismo na igreja de uns amigos seminaristas já pastores. Estava terminando o seminário, já trabalhava há muitos anos com treinamento de líderes religiosos de pequenas comunidades, fazia diversas ações sociais em ministérios alternativos que envolviam artes, esportes músicas e uma série de outros eventos. Porém era uma época difícil para mim, pois havia sido tomado pela crise européia em 2008 e havia perdido um ótimo emprego secular que tinha à anos, não conseguia me encaixar no mercado de trabalho novamente para ganhar o que ganhava, havia casado fazia um ano e meio e minha esposa também não consegui se encaixar em nenhum outro emprego pois era bancária e abandonamos tudo que fazíamos num estado vizinho para voltarmos para nossa cidade onde tínhamos família e amigos, pensando que seria mais fácil.
Confesso que foi um ano de muitas provações, mudamos radicalmente nosso padrão de vida, vivíamos no limite de gastos, sem luxos, passando por momentos de dificuldade, sempre tendo a mão de Deus sobre nossas vidas nos ajudando através da doação de amigos e parentes para auxiliar naquilo que nos faltava. Confesso que não foi fácil pra mim, cheguei a entrar em depressão, muitas vezes me isolava, mas não podia deixar de crer que tudo era propósito de Deus e tudo estava dentro dos planos Dele, e que à Ele cabia a provisão também. Por outro lado a Sua graça nos proporcionava momentos sensacionais, a igreja cada vez mais avivada, os trabalhos sociais transformando pessoas, os líderes que ministravam treinamento contando diversas experiências de transformação que aconteciam em suas igrejas. Realmente foi sensacional.
Porém, o ministério era pesado, lidava com diversas situações constrangedoras e complicadas, ligações de madrugada de pedido de socorro de filhos drogados querendo levar os eletrônicos de casa pra comprar mais drogas, o desespero de mulheres que haviam apanhado dos maridos que chegavam bêbados, a correria para ajudar membros que haviam perdido um ente e precisavam de ajuda para o funeral, isso tudo somado à preocupação de continuar à exercer a obra com excelência sem se abater, a busca por trabalho, e por fim, a separação de minha esposa que cansada com tudo que acontecia e com a vida que estávamos tendo, me largou. Foi o golpe final para meu cansaço mental. Tive que pedir afastamento das responsabilidades da igreja. Parecia que Deus estava contra mim, o mundo queria me destruir. Foi o sentimento inicial.
Mas a graça de Deus é maravilhosa. Como esquecer tantas coisas que o Senhor havia feito em minha vida, como esquecer todo o cuidado Dele em vários momentos da minha caminhada cristã?? Como esquecer que Ele sempre está no controle e que tudo tinha um propósito??
Fui chamado bem uma semana depois da separação para pregar para líderes de igrejas locais num congresso onde estariam líderes que eu admirava de grandes igrejas e líderes de pequenas igrejas. Naquela semana de oração que parecia mais de pedido de socorro do que pedido de uma palavra para ministrar, Deus me ensinou algo notável. Apenas quando estamos vulneráveis podemos refletir sobre a graça de Cristo. Apenas no momento de vulnerabilidade, despidos espiritualmente, podemos perceber o quanto a graça de Cristo no transforma em grandes líderes.
1. Vulnerabilidade remove a pretensão.
Cresci crendo que a dor era mental. Acreditava na mentira de que, para ser um grande líder, temos de ser mais fortes do que aqueles que nos seguem. Queremos que os outros nos vejam como invencíveis, logo, a dor não pode me vencer. Mas a dor é simplesmente a maneira do coração de dizer que algo está errado, ou, por vezes, que algo está em processo de cura. A vulnerabilidade permite que outras pessoas possam ver como Deus está trabalhando. Brene Brown, pesquisador social na Universidade de Huston, disse: “Você não pode chamar isso de fé se não houver nenhuma vulnerabilidade ou incerteza. Se você tem todas as respostas, então não chame o que você tem de fé.”
2. Vulnerabilidade estabelece identidade original.
Eu amo histórias de super-heróis. O herói sempre sofre uma tragédia, e apesar de todas as probabilidades, se eleva acima do quebrantamento para se tornar um herói. A história de origem passa a fazer parte da identidade do super-herói. Cada um de nós é dotado de uma história de sofrimento que se origina no sacrifício de Deus na cruz. Quando nós já possuímos este sofrimento e nos identificamos com a dor de Cristo, rejeição e perda, nós glorificamos a Deus do que nos envergonha. Nossa dor nos impulsiona para a fé.
3. Vulnerabilidade cria conexão.
O sofrimento é normal no ser humano. Ao compartilhar nossas histórias, encontramos conexões autênticas com os outros. As pessoas querem seguir líderes que abracem a humanidade, que conhecem o poder da dor e conhecem o poder da graça de Deus.
Naquele fim de semana de pregações contei minha história para todos os líderes presentes, homens intocáveis e invencíveis, era para serem 30 minutos de palavra, levei exata uma hora de vinte minutos, vi homens que eu admirava chorando aliviados demonstrando que a dor deles era a de outros também, que não era necessário mais esconder nada, que eles também eram humanos normais, não mais super heróis, e que podiam mostrar suas fraquezas.
Ao final do congresso, um pastor de uma grande igreja, à qual eu era um grande fã, uma igreja com mais de dois mil membros com muita fama, veio até mim chorando dizendo que passava por crises emocionais enormes e só podia contar com suas orações e seu travesseiro, pois como líder achava que deveria se mostrar forte. Mas Deus havia mostrado pra ele que isso fazia com que os membros da igreja dele tivessem medo de buscar ele para pedir ajuda pois se achavam menor que ele, e que ele havia entendido que mostrar vulnerabilidade faria com que as pessoas entendessem que ele apesar de líder, era como elas.
Pastor Nikolay Aksenen
O pastor Nikolay Aksenen mora em Curitiba e tem 13 anos de ministério, dos quais 7 como pastor, sempre atuando na área de missões e evangelismo. Trabalha no desenvolvimento de pessoas há mais de 17 anos e atua como pastor sênior na Brazilian Church, uma igreja virtual dentro da Plataforma Godalive.com , que tem como membros brasileiros espalhados ao redor do mundo que, por não se adaptarem às igrejas locais, fazem parte da sua Igreja.