7 desafios para o ministério cristão de jovens e adolescentes
05 maio 2017
Liderar jovens cristãos sempre foi um grande desafio para a Igreja em qualquer período de sua história. Em nosso presente, no período conhecido como pós-modernidade, estes desafios parecem se acentuar um pouco mais e gostaria de conversar a este respeito, através de 07 desafios para o ministério cristão de jovens e adolescentes, que tenho encontrado ao longo dos últimos anos onde nos dedicamos a pastorear jovens e adolescentes na cidade de Curitiba.
Esta lista não é exclusiva com certeza, pois existem inúmeros outros desafios que dependem de algumas variáveis como faixa socioeconômica da igreja ou da cultura regional que muda o comportamento dos jovens ao redor do planeta. Antes de mais nada o líder de jovens deve ter intimidade com o Senhor para poder desempenhar um bom trabalho nesta nobre missão.
Desafio 1 – O Desafio da Linguagem
O primeiro desafio em liderar jovens e adolescentes cristãos tem relação direta com a linguagem que utilizamos. Percebi no início de nosso trabalho que precisamos ser sábios em nossa comunicação. Cuidar com o nosso vocabulário, sendo acessíveis em nossas palavras. Não adianta nada possuir uma teologia poderosa se aqueles que nos ouvem não entenderem nossa linguagem.
Podemos cometer o erro em achar que aqueles que nos ouvem são cristãos amadurecidos, caso venhamos a considerar que o tempo de conversão é sinônimo de maturidade espiritual. Existem novos convertidos que possuem maturidade consistente e cristãos com décadas de igreja que permanecem crianças espirituais.
Não é minha intenção falar sobre como o processo de maturidade acontece, mas apenas destacar que este não é um processo uniforme ou constante em todos os cristãos. Em especial em jovens e adolescentes onde as mudanças e experiências se acentuam levando a diferentes pontos de vista sobre o caminhar como igreja na terra. Toda pregação apresenta componentes de ensino e quando penso nisto o texto que me vem à mente é uma das instruções do experiente Paulo a seu discípulo Timóteo:
Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para ensinar, paciente. 2 Timóteo 2:24
Desafio 2 – O Desafio da Informação
Outro desafio para aqueles que trabalham com a juventude cristã está em auxiliar esta nova geração a lidar com o volume descomunal de informações acessíveis em tempo real a todos eles. A Revolução Digital e a recente Revolução Móvel através da expansão da Internet em dispositivos móveis leva informação a todos sobre todos os assuntos. Nossa missão como líderes é auxiliar os jovens em como devem utilizar as informações disponíveis.
Tenho visto que a figura do pastor da congregação local acaba ficando em segundo plano quando existem outros formadores de opinião espalhados pelo YouTube e redes sociais que acabam sendo modelos para os jovens e que geram certa confusão em suas mentes. Ser um pastor de YouTube, como costumo dizer, é muito fácil pois não existe interação pessoal entre líder e liderado. É preciso resgatar o respeito aos líderes que pagam preço real pela vida dos jovens.
Somado a isto é preciso ensinarmos a Bíblia aos nossos jovens para que possam separar boas mensagens de mensagens biblicamente deturpadas pela visão antropocêntrica que muitos ministérios têm utilizado para captar membros para suas denominações. O autor de Hebreus nos ajuda a compreender esta verdade:
Lembrem-se dos seus líderes, que lhes falaram a palavra de Deus. Observem bem o resultado da vida que tiveram e imitem a sua fé. Hebreus 13:7
Desafio 3 – O Desafio da Imaturidade
A imaturidade é uma das marcas da chamada geração Y por diversas razões que o limite do presente texto não permite um aprofundamento adequado. Entre elas aponto para a cultura do sucesso que tem se instaurado em nossa sociedade.
Família e Escola preparam nossas crianças para serem vencedoras e competidoras em um mundo corporativo concorridíssimo, onde apenas os melhores sobrevivem. O resultado desta cultura é que eles passam tanto tempo sendo preparados para vestibulares e processos seletivos de grandes empresas que esquecem de crescer como cidadãos e indivíduos. Esta geração vislumbra o sucesso, mas não consegue suportar o fracasso. Esta imaturidade está presente na vida de muitos pais que corroboram com as atitudes dos filhos impedindo que cresçam através das consequências de seus erros. Embora a tentativa de proteger o filho do sofrimento possa parecer louvável em um primeiro momento, no longo prazo gera jovens extremamente dependentes, incapazes de tomar decisões por conta própria e que não conseguem desenvolver suas habilidades e talentos pelo medo de errar. O desafio dos líderes de jovens é poder confrontar o erro desta geração quando ele acontece.
O fato do líder ir contra atitudes antibíblicas e anticristãs gera descontentamento e, em muitas ocasiões leva o jovem a migrar para outra igreja para evitar o processo de arrependimento e cura de comportamentos desviantes. Embora desgastante, é imprescindível que nossos jovens saibam o que a Bíblia diz com relação a comportamentos infelizmente comuns em nossos dias, como sexo antes do casamento, divórcio, novo casamento, uso de drogas, ou seja, comportamentos comuns na sociedade em geral, que não podem tornar-se a regra em nosso meio. As escolhas deles devem acontecer de maneira consciente dos riscos a que se expõe quando vão contra a Palavra de Deus. Depois do erro, devemos orar para que mudem de direção e voltem-se a Deus.
Precisamos cuidar com a cultura de uma espécie de “Teologia do amor” que aceita todo o tipo de comportamento sem que se busque alinhar o comportamento com o discurso. Muitos jovens declaram versículos em suas redes sociais, porém levam vidas seculares sem que isso pareça algo errado. Não se esqueça das palavras de Jesus:
Tomem cuidado. “Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-lhe”. Lucas 17:3
Desafio 4 – O Desafio da Família Desestruturada
Muitos jovens que estão em sua igreja ou que ainda chegarão nela são filhos de pais divorciados. Os traumas e problemas gerados por esta ruptura na estrutura familiar apresentam suas consequências ao longo dos anos.
No caso do Brasil, a grande maioria dos filhos de casais separados fica com a mãe e vê o pai algumas vezes. O ato da perda da referência paterna para os filhos têm consequência direta na vida social e espiritual do indivíduo. Na questão social, a imagem da hombridade, da masculinidade para os meninos, fica delegada a terceiros, geralmente a TV e o computador.
Por esta razão temos uma geração de homens que não sabem ser homens, pois não conviveram com um modelo bíblico para a função. Muitos pais que não se separam também não são bons exemplos dos papéis dos homens para que os filhos possam se espelhar e reproduzir isto a seu tempo. No caso das meninas a falta paterna gera insegurança e dependência emocional que podem levar a relacionamentos amorosos com rapazes cada vez mais cedo, na ânsia de suprir a falta que o pai fez em sua vida, mesmo que de maneira inconsciente. Na esfera espiritual, a falta do pai terreno reflete no relacionamento com o Pai celestial. O conceito de Paternidade divina na vida do jovem fica comprometido quando falta esta referência em sua vida.
O papel do líder nesta questão é auxiliar o jovem a vivenciar sua experiência com Deus, enxergando a Ele como Pai mesmo que seu pai terreno não faça mais parte de sua vida. É papel do líder ajudar a perdoar esta ausência e buscar reatar relacionamentos perdidos.
Uma igreja forte é fruto de famílias estruturadas e fortes. O jovem deve ter a certeza de que o ciclo de separações se encerre através de sua vida e que as experiências negativas servirão como aprendizado prático de como devem agir quando forem esposos e esposas. O salmista nos apresenta a maior esperança com relação a esta situação que devemos colocar para nossos liderados:
Ainda que me abandonem pai e mãe, o Senhor me acolherá.Salmos 27:10
Desafio 5 – O Desafio da Culpa
Nós alertamos sobre os perigos de relacionamentos duvidosos, sobre a consequência do pecado em suas vidas, mas não temos controle sobre suas decisões em pecar. Algumas vezes eles buscarão experimentar e como dizemos “Pagar para ver” se realmente “Não dá Nada” fazer o que estão querendo fazer. Qual é o desafio que o pastor ou líder de jovens precisa lidar nestas ocasiões?
Ele tem nome e se chama CULPA que oprime sua alma quando um dos seus acaba caindo em pecado. Perguntas como: “O que eu fiz de errado?” , “O que eu poderia ter feito para ter evitado isso?” entre outras, tomam conta de nossas almas gerando peso e tristeza pela situação e pela sensação de fracasso que acompanha estas notícias. Este é um desafio pessoal do líder, pois situações assim vão acontecer ao longo da jornada ministerial independente do que você faça.
O que precisamos fazer para não nos sentirmos assim? Em primeiro lugar, dar suporte para aquele que pecou e ajudá-lo quando pedir ajuda. Normalmente quando algo não sai como o planejado pelo jovem, como por exemplo, quando o sexo antes do casamento resulta em uma gravidez indesejada ou quando as conversas picantes por Whatsapp com desconhecidos são descobertas, o jovem passa instantaneamente de uma condição de dono de si para alguém assustado, frágil que precisa de ajuda e de uma mão amiga. Eles precisam saber que apesar do pecado, Deus continua amando a cada um deles. Uma das melhores maneiras deste amor ser sentido é por aqueles que exercem algum tipo de autoridade espiritual sobre eles.
O segundo passo é tratar com o problema na dimensão correta de pecado e providenciar o tratamento adequado para que gere o arrependimento genuíno e exista cura nos corações envolvidos.
Em terceiro lugar, buscar junto com a família uma resolução prática para a questão para que seja resolvida e a liberdade seja restabelecida. É importante para o líder que entenda que não é responsável por tudo o que acontece na vida de seus liderados. Precisamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance e orar para que nossos liderados tenham maturidade em suas atitudes.
Tornaram-se tolos por causa dos seus caminhos rebeldes, e sofreram por causa das suas maldades. Salmos 107:17
Desafio 6 – O Desafio da Depressão
Pode parecer um contra senso falarmos de depressão nos anos mais felizes e descompromissados da vida de uma pessoa em sua juventude. Tudo deveria ser festa e alegria nos anos que antecedem a vida adulta (e as responsabilidades que a acompanham). Então porque pesquisas recentes apontam para a depressão como a principal doença que afeta jovens e adolescentes?¹
Já falamos neste artigo sobre o volume monumental de informação em tempo real na vida moderna. Queria abordar outro ponto que gera muito desgaste na vida de nossos jovens que é a manutenção de várias “vidas” que muitos adotam nesta era digital.
A primeira vida é a real que deveria ser a única, porém ela tem rotinas e atividades que não são tão legais para divulgar para outras pessoas. Desta forma, esta vida fica restrita a um grupo pequeno de pessoas que são os familiares jovens.
A segunda vida seria a “digital” ou seja, aquilo que o jovem quer que saibam sobre ele. Nessa vida não existe tristeza, não existem problemas, apenas o sorriso no rosto nas Selfies, as frases de efeito e o narcisismo que as redes sociais impõem. Poderia citar outras “vidas” mas ficaremos nestas duas para entendermos o que está acontecendo.
Existe um descompasso, uma diferença entre a vida real e a vida digital de cada pessoa e muitos não conseguem encarar as redes sociais como todos nós deveríamos: como uma diversão sem maior importância. O que estamos vivendo após o estabelecimento das redes sociais como parte da vida das pessoas, é que a importância dada a elas é muito grande. As pessoas estão transferindo para a rede social toda sua vida. Neste sentido o que lemos na internet a respeito de uma pessoa está se tornando a imagem desta pessoa para o mundo. É exatamente neste ponto que a depressão está atingindo nossos jovens.
O desespero de que outros saibam que a sua vida não é tão descolada como aparece nas publicações tem gerado ansiedade e estresse em muitos que não tem condições de sustentar o “visual ostentação” das postagens. O líder precisa estar atento para esta diferença entre a vida real e a virtual e avaliar o comportamento. Conversar a respeito em suas reuniões pode ser de muita utilidade para que o próprio jovem identifique seu problema e possa iniciar um processo de mudança com a ajuda da família, da igreja e de profissionais da área.
Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. Mateus 11:30Bendito seja o Senhor, Deus, nosso Salvador, que cada dia suporta as nossas cargas. Pausa Salmos 68:19.
Desafio 7 – O Desafio dos Relacionamentos
Distinguir as práticas dos jovens não-cristãos das práticas dos jovens que conhecem a Cristo é um desafio por si só. Os relacionamentos amorosos estão muito presentes na vida de jovens na sociedade e portanto, este acaba sendo um tema relevante também para os jovens cristãos. Podemos falar a respeito especificamente de relacionamentos cristãos em outra oportunidade, porém neste espaço gostaria apenas de apresentar as inquietudes que o tema gera dentro dos grupos de jovens.
Os jovens precisam entender que não precisam de outra pessoa para serem felizes. Cada indivíduo pode e deve ser feliz em Deus, sem a necessidade de colocar sobre outra pessoa esta responsabilidade. Quando enfim encontrar a pessoa com quem ele ou ela passará o resto de sua vida, esta pessoa apenas complementará a felicidade que ela já possui.
Qualquer ser humano é falho e vai fracassar em fazer outra pessoa feliz. Eles devem colocar em Deus suas expectativas e viver uma vida tranquila. Este entendimento os livrará de diversos relacionamentos gerados pela dependência emocional da qual falamos anteriormente.
Conclusão
Espero que este texto possa ajudá-lo em sua jornada como líder de jovens e que você não esqueça que antes de qualquer coisa, deve inundar seu trabalho com muita oração colocando tudo diante de Deus para que Ele possa auxiliar sua jornada, pois com toda a certeza, Cristo é o maior interessado no seu sucesso com os jovens. Sucesso entendido como cuidado, discipulado e a reprodução de novos líderes que ampliem e continue o trabalho que Deus delegou a você!
Deus o abençoe muito!
Pastor Eduardo Medeiros
O ilustre Pastor Dr. Eduardo Medeiros, é doutor em história medieval pela UFPR e especialista em Teologia Bíblica pela Mackenzie – SP. Ele atua como professor e escritor de teologia em diferentes disciplinas, além de ser Pastor da IEQ em Curitiba desde 2011. O Pastor Eduardo é especialista na liderança de jovens e adolescentes cristãos e está envolvido no mundo digital com projetos super interessantes voltados para o público digital jovem como o Parábolas Geek, que é um projeto que cria devocionais e mensagens com princípios do Reino de Deus utilizando personagens de filmes, séries de TV e histórias em quadrinhos e o Conectados à Fonte , que é uma rede de Jovens da Igreja do Evangelho Quadrangular em Curitibano no bairro Tingui, liderado por ele e sua esposa desde 2011. O Pastor Eduardo é casado com a Meiry desde 2003, e papai do fofura Joshua, nascido em 2014.